Próximos Eventos: Apresentação do Livro «Identidade e Conflito», de Fernando Esteves Pinto, no Lunch Caffe São Pedro, em Faro. Apresentação por Tiago Nené.


Linguagem de Cálculo - Associação Cultural

A Linguagem de Cálculo é uma associação cultural sem fins lucrativos. Dedica-se a projectos na área da edição de livros, exposições, promoção e realização de espectáculos de teatro, dança, música, e outros. É o primeiro grupo editorial do Algarve, detendo chancelas como a Revista Sulscrito e as editoras de livros 4 Águas, Popsul, Livros do Mundo e Livros Capital. É um dos parceiros da exposição Rostos da Escrita, com desenhos do emblemático poeta António Ramos Rosa, e uma das entidades organizadoras do Encontro Hispano-Luso de Escritores Palavra Ibérica.

POEMAS DE TIAGO NENÉ / DE "RELEVO MÓBIL NUM CORAÇÃO DE TEMPO"



(...)

um tempo nunca se explica a si mesmo,
um tempo é explicado por outro tempo,
o meu problema é amar-te sem saber
qual o tempo que o explica.

*


INSÓNIA

vai-me queimando infinitamente a insónia
que foi a minha vida;
estou a perder a pronúncia que um dia
me escreveu,
o meu nome já não é um ombro amigo,
meus dias são mera arte;
as minhas certezas febris também ardem
na rua deserta e mais ventosa do meu corpo;
a minha imagem, ora longe, ora regressada
é uma paula rego algemada, desenhando e apagando
a lápis, porque esquecendo o que lembrando
e lembrando o que esquece;
e dito isto, a rua avança, ultrapasso
o meu século, apanhando um autocarro
num país distante de terceiro mundo,
porque há sempre tempo
para uma morte mais viva;

*

A IDADE DA INOCÊNCIA

da sua pedra só o azul, ausente, é consciente,
as suas viagens são de matéria
irremediável,
no seu silêncio ninguém conhece o paradeiro,
as suas árvores ardem como o pôr-do-sol
num passado irregressável;

a sua língua ao volante da fotografia de uma voz ébria
não tributará um sonho de calibre dramático,
os seus momentos estão constelados
pelos umbigos do mundo;

eles são adolescentes, eles não sabem morrer;

*

CARTA AO FILHO

filho, já não há sangue do meu correndo nas tuas veias,
há uma humidade opaca nesta ferida,
sinto-me um sopro enchendo a fissura da rocha que sou;
filho, havia ainda um último fósforo, uma dúvida
mais transparente que o ar, a única que não pode haver
entre um pai e um filho, uma árvore ardendo
no meu amor;
filho, hoje o teu rosto parecido com o meu
perdeu os pilares que seguravam as nossas parecenças
e toda a respiração se desmoronou;
filho, meu único filho, perdoa-me hoje
o que sinto de ontem, um desamor injusto e selvagem,
cravado na memória, retroactivo;

o teu pai

*

CRIATURÁRIO

limpamos o sujo do nosso vinil
com a ilha nua que as mãos formam;
a música não nos atinge; as metáforas
sabem a mercúrio, os hábitos são ecos
de delfim;
a palavra reflecte o homem,
o homem há muito que deixou
de reflectir a palavra, desde que o vento
pediu às nuvens que inventassem outra vez
o amor, sem respeito pelas situações
adquiridas ao abrigo das leis anteriores;
o nosso amor antigo tem lascas,
o desamor actual tem corrosão verde;
hoje desapertamos todo o esforço do mundo
e pelas mãos entramos no disco de vinil;
e sempre que alguém se aperceber
de um pequeno salto na agulha, somos nós
evitando uma onda;

*

O JARDIM DE MONET

o homem procura a saída como a flor
procura a sombra, e o frio a manhã
como o corpo procura um cardume de memórias
gastando a distância entre elas; o homem procura
a saída, como o paraíso as montanhas, e o cão
o jardim de monet, e o gato vê do
telhado os turistas olhando a história, apreciando
a beleza do rei; o homem procura a saída
na pequena falta de cerâmica do mundo
como as páginas do livro que se tornam
planícies e depois vales; o homem procura a saída
depois dos arbustos da púbis, seguindo
o pássaro com o seu coração no bico, bem para lá
do ventre; saberá o pássaro o lugar exacto
de onde retirou o coração? será este o mesmo
corpo? leva tempo e o homem esquece o coração
e procura a saída, talvez como o gesto enlutado
que procura a sua cor, e a cor que procura
sintonizar a tonalidade apropriada para a circunstância;
o que é certo é que o homem procura a saída
com a respiração editável dentro do corpo
e os olhos parecendo restituir todo o seu peso no arfar;
mais tarde, por fim o homem farto
pergunta à mulher onde é a saída, e ela
encolhe os ombros e abre os braços; foi então
que ele entrou nela e, de certa forma, sem dúvida
a mais bela de todas, nunca mais saiu;

*


COMUNICAÇÃO


Para Albano Martins

pões uma pausa à volta de cada palavra.
em cada pausa circular colocas uma porta.
convidas outras palavras para irem ao encontro
dessa pausa, dessa porta.
cada palavra tem, então, dentro de si
outras palavras.
ninguém sabe. mais tarde, pões uma distância
à volta de cada palavra.
algures a meio, colocas uma janela. desafias
outras palavras para taparem essa janela
com os seus significados mais primitivos, de modo
a se não permitir a interrupção dessa distância.
ao longe ninguém dará por isso.
erradicas do teu vocabulário a palavra
«nomeadamente».
sabes que os poemas secundam a vida
e por vezes vão para além dela.
mais tarde, comunicas com o teu amor
mais distante.
envias uma carta. telefonas. mandas mail.
és experiente e superior porque te soubeste
condicionar de múltiplas maneiras.
sabes que o amor é a menor distância possível
entre dois seres vivos.

Poemas de "Relevo Móbil Num Coração de Tempo"
de Tiago Nené
Lua de Marfim, 2012
.

MANUEL MADEIRA POR MARIA DO SAMEIRO BARROSO





À DESCOBERTA DAS CAUSAS NO SORTILÉGIO DOS EFEITOS

Manuel Madeira
Poesia



NA PAISAGEM POÉTICA, O UNIVERSO DO SER

            Neste trabalho poético, o mais recente de Manuel Madeira, autor que já nos habituou a poemas de fôlego, amplia a sua relação ôntica, percorrendo as várias vertentes da dialéctica tempo-espacial do eu poético, na sua articulação com o universo.
No primeiro ciclo de poemas, constituídos por VI partes, intitulado Universo, o poeta posiciona-se exactamente no seu centro: «Estamos neste momento no Centro do Universo,/por mais que me afaste não me aparto do centro/ porque estou convosco pisando o mesmo chão/ que viaja connosco, que viajamos com ele.» (I, p. 9).
O universo é desde logo enunciado como um centro de afectos, no qual o ser se integra, na sua dimensão cósmica. No segundo poema, a palavra é introduzida como elemento estabilizador, o único, através do que é possível estabelecer pontos de referência, ainda que frágeis, pois pressentimos aqui a corrosão do tempo e dos afectos, projectados na inevitabilidade da entropia do cosmo: «Só as palavras sonham ser estáveis e intactas/como estacas cravadas nas bermas devassadas,/mas nem elas resistem à corrosão entrópica/nem nós que as usamos somos impolutos.»(II, p. 10).
A sua procura é intemporal, inscreve-se nas origens, remonta ao atomismo de Demócrito: «Falemos da forma e da essência das coisas,/procuremos a origem mais remota do ser/a causa das causas casuais das coisas/o nada original princípio e fim de tudo./Os gregos já tinham sonhado com o sonho,/Demócrito sonhou (...)». (III, p. 11).
A «matéria dinâmica» consubstancia a energia endógena que conglomera em si todos os sentidos, incorporando o orgânico e o inorgânico: «Porque a matéria sonha e pulsa desde o verme à estrela»: (IV, p. 12).
Na concepção de Friedrich Schiller (1759-1805), que possuía sólida formação na área das ciências, nomeadamente, na Medicina, o verdadeiro Poeta deveria incorporar em si todos os avanços científicos e conquistas do seu tempo[1].
Há, de resto, ecos da Ode à Alegria (An die Freude) do jovem Friedrich Schiller: «Wollust ward dem Wurm gegeben,/Und der Cherub steht vor Gott».(Volúpia foi dada ao verme,/E o querubim ‘stá ante Deus.[2]).
No séc. XVIII, está patente a concepção de Leibniz (1646-1716), segundo a qual: «os instintos não devem ser compreendidos como afectos, isto é, como “confusae repraesentationes[3].
É no âmbito desta consciência (do final do século XVIII), ampliada e transposta para o século XXI que Manuel Madeira abre sobre si mesmo as portas do seu universo poético, que se constitui como «Substância original de toda a eternidade» (V, p. 13).
Para a sua interrogação sobre o real, convoca Platão: «Platão sabia que o real é uma sombra/mas a sombra não é ipso facto o real:» (VI, p. 14).
            Partindo do seu «Início Instável» (título do poema da p. 16), fazendo o seu caminho através da sua «Oscilação cega» (título do poema da p. 17), a natureza, vivificada pela «fonte das palavras» inaugura a relação do poeta com a sua «essência intrínseca» (p. 20). No poema da página seguinte, o diálogo do poeta com natureza assume formas concretas: «Hoje tive a visita do melro preto com duas penas brancas» (p. 19) que se articulam com a sua «Autobiografia» (p. 20): «Trago sedimentos de palavras que são grãos/de areia de um deserto inesgotável» (p. 21).
Nesta paisagem que Manuel Madeira nos vai confiando, a luz: «É uma sombra fóssil com raízes aéreas» (poema «Luz para iluminar um fóssil», p. 22).
Tal como para Hans-Georg Gadamer(1900-2002): «Na verdade, o horizonte do presente está num processo de constante formação»[4]. Este processo não se forma à margem do passado: «Parte dessa prova é o encontro com o passado e a compreensão da tradição da qual nós mesmos procedemos[5].
É neste devir poético que cabem e se abrem as «Estratégias do vento» (pp. 23- 27). Neste ciclo, o vento, sacudindo as ramagens da memória, convocando «o silêncio de um Nocturno de Chopin» ou, curiosamente o, já veladamente aludido «hino à alegria da nona sinfonia de Beethoven» e a conclusão de que «só os genes são responsáveis/porque são imortais como as partículas que os enformam.» (p. 25).
No nosso tempo, é nos genes, no ADN, na ciência, em resumo, que o homem se revê, na sua necessidade arcaica de Deus e da Eternidade. : «A morte dos deuses é um sinal do tempo que nos viu nascer», afirmara nas Cartas Poéticas[6] que trocara com António Ramos Rosa. O ser é uma parte do Todo, corresponde a uma ínfimo resíduo cósmico, mas apenas nele pode projectar a sua certeza ou ilusão de Eternidade, uma vez que: «A morte dos deuses é um sinal do tempo que nos viu nascer»
O vento é também um elemento estético, por excelência, que actua como dilecto agente transmutador da matéria e dos afectos: «O vento é neste caso um violino/percutido pelo arco de um poeta/que transforma a dor sofrida em alegria.» (IV, p. 27), onde «a música do silêncio» persiste «numa canção de Mahler» (p. 28).
E a paisagem poética continua a desdobrar-se, nas meditações dos seus «Trajectos» (pp. 30-35), de onde o poeta emerge «Perdido às escuras entre fragrâncias claras» (p. 36). O uso recorrente de antinomias e ao oxímoron reforça a dialéctica desta poética. No verso seguinte: «é como estar soterrado na leveza das nuvens». As coisas e as vivências são transformadas: «A distância/ dilui-se em sensação. As palavras substituem/os objectos e os seres agora transformados em recordação/que acorda os momentos esculpidos/no espaço tempo que os levou consigo.» (p. 37).
O tempo, que, para Schleiermacher (1768-1834): « já não é mais, primariamente, um abismo a ser transposto porque divide e distancia, mas é, na verdade, o fundamento que sustenta o acontecer, onde a actualidade finca as suas raízes[7], rodopiando, no seu imponderável eixo, é: «seta disparada à revelia dos sentidos» (p. 40), ou «(...) a ânsia indizível de o procurar» (Poema «Em memória de Marcel Proust/Todo o presente já passado» (p. 44), projectando-se prospectiva e retrospectivamente: «tacteando o vazio», «a ausência», «porque tudo é passado à velocidade da luz».
A natureza fornece-lhe indícios seguros: «Vejo através da janela a trajectória das aves» (p. 42), enquanto o real lhe parece escapar: «Quanto mais falamos do Real/mais ele nos foge por entre os dedos vagos» (p.43).
Pontuando esta poesia de pendor reflexivo filosófico, a música: «Embalado pela música», o tempo: «o tempo sem sentido que tem o sentido/ sentido por mim» e as palavras: «Surpreendo as palavras no seu leito de cal» (p. 47), articulam uma tríade na qual o ser poético se vincula ao real e ao onírico. Pela palavra que, conscientemente desperta: «Desperto-as para que me despertem/do sono vegetal em que sonho com elas»(p. 47), aspergindo a sua seiva para dentro de si, inscreve, na sua própria luz, a luz do universo e, em meditações metapoéticas: «A poesia desliza entre o silêncio e a palavra (Poema «Entre silêncio e a Palavra», p. 48).
Entre os cometas, transformados em pintura, «Sobre um quadro de Kandinsky»(p. 51), «O vento que sacode os pensamentos» (p. 52) e retalhos do quotidiano, no qual o homem é o inexorável predador: «Chegaram os caçadores e as perdizes sabem» (Poema «Caça», p. 53), persiste o núcleo inconsciente presidindo, com a sua matéria de enigmas: «Todos os dias assisto e participo talvez inconsciente/na luta silenciosa (...)» (Poema «Enigmas», p. 54).
A relação poema/verdade é assumida por Manuel Madeira: «O poema é a verdade É nela que se move/respira e canta mesmo que a respiração seja ofegante/e o canto doa até fazer sangrar» (p. 59).
Goethe (1749-1832) enunciara uma poética ao serviço da verdade, no livro «Dichtung und Wahrheit» (Poesia e Verdade), tendo referido, na carta a Zelter, as suas obras como: «Es sind lauter Resultate meines Lebens, und die erzählten einzelnen Fakta dienen bloß, um eine höhere Wahrheit, zu bestätigen.» (São factos puros da minha vida e os pormenores dos factos narrados servem apenas para constatar uma verdade mais elevada)[8].
Aos «Fakta» de Goethe, vêm-se sobrepor as «Erlebnisse» (vivências), palavra que só passou a ser utilizada nos anos 70 do séc. XIX. Tal como esclarece Hans-Georg Gadamer: «No século XVIII ela absolutamente ainda não existe, mas também Schiller e Goethe não a conhecem. A partir daí, a palavra “vivenciar” passa a carregar o tom da imediaticidade com que se abrange algo real»[9].
Para este filósofo: «A corrente vivencial possui o carácter de uma consciência universal do horizonte, do qual só se dão realmente momentos individuais, como vivências.»[10].
É a essa verdade, a essa totalidade, que Manuel Madeira se consagrara e já expressara nas Cartas Poéticas que trocara com António Ramos Rosa, seu amigo de juventude: «Suspendo um pouco a mão sobre o papel/para deixar fluir por todo o corpo o pensamento/porque sou eu inteiro que escrevo e penso»[11].
            Nessa totalidade, Manuel Madeira mergulhara já a sua aspiração cósmica: «Aspiramos à implantação do ser/como quem implanta uma alfarrobeira ou um hibisco»[12].
            Uma alfarrobeira, planta tipicamente algarvia, terra natal dos dois poetas, ou o hibisco, exuberante flor meridional são um elo presente e acessível, nesse país poético.
            «Às vezes é tão pouco o que nos torna o passo leve», dissera, quase ciciando, António Ramos Rosa[13].
A infância: «O aroma quente dos morangos» (p. 60), a grande explosão cósmica: «Tenha ou não havido a Grande Explosão» (p. 62), ou, de novo, cenários de um quotidiano mais próximo: (Poema «Era o Verão»), «Chegava montado numa pileca esconsa»(p. 63), são pontos de partida diversos que continuam a alternar.
Nesta torrente poética em que «Ser livre é estar disponível e vazio» (Título do poema da p. 62), ou: «Em memória de Miguel Torga/no centenário do seu nascimento (título do poema da p. 65), Manuel Madeira sabe também reconhecer a aridez da vida: «mesmo aqui a Poesia te visitava», ou: «Nem sempre cantaste a alegria de viver/embora esse desejo permaneça fulgurante».
«É artificiosa e matreira esta matéria mais ínfima», diz-nos na p. 67, «Vemos e sentimos o mundo à nossa imagem» (p. 69).
Deste universo: «Talvez o círculo seja a figura dominante aproximada/deste universo aberto e sincopado que somos» (p. 73), tudo é imprevisível: (Título do poema «Anatomia do Amor Imprevisível», p. 74), porque «tudo o que existe poderia ser diferente/senão na essência ao menos na aparência».
Mergulhando na sua própria génese: «Nada existia antes que não fosse tudo» (p. 75) e, nesta paisagem, a um tempo, cósmica, quotidiana, o poeta escava bem fundo, o mundo, nas suas margens abertas, porque, fulminando em si a luz, define o poema, afinal como:
«um universo de letras»
(Poema «Tempo do poema ou Poema do tempo», p. 76).

Maria do Sameiro Barroso


[1] [Josef Käufer], Versuch einer Einführung, in Friedrich Schiller, Medizinische Schriften, Hoffmann – La Roche, Munique, Anlaßdes 200. Geburstag des Dichters, 10 November 1959, p. 18.
[2] Friedrich Schiller, poema À Alegria, in Paulo Quintela, Obras Completas, IV (Org. António Sousa Ribeiro), Traduções III, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1999, p. 344.
[3] Leibniz, apud Hans-Georg Gadamer, Verdade e Método. Traços fundamentais de uma hermenêutica filosófica (original: Wahrheit und Methode, Tübingen, 1986), trad. de Flávio Paulo Meurer, 3.ª ed., Vozes, Petrópolis, 1999, Primeira Parte, 1.1.3, β [p. 34] (74), nota 74.
[4] Hans-Georg Gadamer, Verdade e Método, Segunda Parte, 2.1.4, [p. 311] (457).
[5] Hans-Georg Gadamer, Verdade e Método, Segunda Parte, 2.1.4, pg. 311] (457).
[6] Sexta carta a A.R.R., in António Ramos Rosa e Manuel Madeira, Cartas Poéticas in Idem, Trigésima primeira carta a A. R. R., Editora labirinto, Fafe, 2007, p. 23.
[7] Schleiermacher, apud Hans-Georg Gadamer, Verdade e Método, Segunda Parte, 2.1.3, [pg. 302] (445).
[8] Johann Wolfgang Goethe, in | Brief| an Zelter, 15,2,1830, apud Hrsg. Richard Dobel, Das Lexicon der Goethe-Zitate, Patmos Verlag, , Albatros Verlag, Düsseldorf, 2002, p. 320.
[9] Hans-Georg Gadamer, Verdade e Método. Primeira Parte, 1.2.2.β [pg. 66] (117).
[10] Hans-Georg Gadamer, Verdade e Método, Segunda Parte, 1.3.1, [p. 250] (373).
[11] António Ramos Rosa e Manuel Madeira, Cartas Poéticas, in Trigésima primeira carta a A. R., p. 77.
[12] António Ramos Rosa e Manuel Madeira, Cartas Poéticas, in Sexagésima terceira carta a A.R.R., p. 144.
[13] António Ramos Rosa e Manuel Madeira, Cartas Poéticas, in Quinta carta a Manuel Madeira, p. 20.

Poesia na Rua em Cacela Velha

Sophia de Mello Breyner Andresen, Eugénio de Andrade, Adolfo da Conceição Gago, Teresa Rita Lopes. Na povoação de Cacela Velha, no Algarve, facilmente se encontrava uma composição assinada por cada um destes autores.

Algures inscrita em tecidos fixados nas paredes de casinhas caiadas a azul e branco, nas vedações metálicas que demarcavam os espaços de circulação, ou em folhas de papel penduradas por molas em cordas de estender roupa, naquilo a que se baptizou de "estendais de poesia".

Nos passados dias 15 e 16 deste mês, Cacela Velha recebeu, pela segunda vez e de braços abertos, a poesia. A edição deste ano de "Poesia na Rua" levou novamente a cabo uma prazenteira homenagem a poemas e poetas que, de uma forma ou de outra, assinalam uma especial afinidade com esta pitoresca aldeia plantada à beira-mar.

Uns porque lá viveram, outros simplesmente porque nela encontraram uma imperdível fonte de inspiração para escrever. "É um lugar que parece exercer uma grande influência sobre os poetas que o conheceram", explica José Carlos Barros, poeta publicado e vice-presidente da Câmara Municipal de Vila Real de Santo António, a qual, em parceria com o Centro de Investigação e Informação do Património de Cacela, encabeça a organização do evento.

Conta que Cacela Velha é "o lugar onde nasceu, no século X, o maior poeta árabe do seu tempo, Ibn Darraj al-Qastalli", que deu nome ao largo à volta do qual toda a festividade tem lugar. Do seu legado literário geminou a iniciativa que "começou sem grandes ambições".

Dentro do forte da aldeia, assomando do seu alto pátio, contempla-se a serenidade de uma vista panorâmica sobre a orla terminal da Ria Formosa - urzes e piteiras-da-Índia a revestir a encosta, traineiras ancoradas boiando sobre a laguna, bandas de areal mais ao fundo e mar como horizonte.

De olhar debruçado sobre o muro do lado este, observam-se os vestígios arquitectónicos da remota ocupação muçulmana naquele aglomerado, que um dia já foi cidade e ponto estratégico de defesa. No mesmo pátio, à sombra de uma antiga borracheira, decorrem as conversas e colóquios sobre os mais variados temas que compreende a poesia ligada ao Sotavento algarvio e a Andaluzia, esta última em virtude da colaboração da Fundação al-Idrisi Hispano Marroquina em projectos de investigação na área, facultando o acesso a fontes árabes, e na dinamização do evento.

Tiago Nené escreve, edita e traduz. Fundador do [Texto-Al], Grupo Literário do Algarve, o tavirense, que no ano passado publicou Polishop, foi conduzido ao evento na qualidade de recitador e orador.

Considera fundamental, nas palavras que tece sobre a iniciativa, "ter-se desenterrado a obra de Adolfo C. Gago, sem esquecer, num outro plano, aqueles que são os novos valores da poesia portuguesa, alguns do Algarve".

Fernando Esteves Pinto, que há muito também abraçou as palavras em verso, frisa a necessidade de não limitar à região Algarve a divulgação da poesia que nela se faz. Exemplifica-o com a Linguagem de Cálculo, associação cultural algarvia, detentora de várias chancelas editoriais, que ergueu junto com Tiago Nené e que desdobra a sua actividade em projectos de edição de livros, exposições, espectáculos de teatro, música e dança. "As apresentações de muitos dos livros que editamos são feitas noutras cidades portuguesas, como Lisboa e Porto", ilustra.

Por volta das 22h00 de sábado, teve início a sessão de recitais, que contou com a leitura em voz alta de dezassete declamadores. Brindou o lote de espectadores de uma forma pouco prosaica: a cada poema lido seguem segundos de música pela Filarmónica de V. R. de Santo António e o estouro de um foguete.

Mas nem só de poesia, apresentações de livros, recitais e palestras se compôs a festa. Para além de animações e actividades dirigidas aos mais novos, pela manhã, o público presente pôde ainda assistir à projecção de uma curta-metragem, Fragmentação, realizada pelo jovem autor algarvio Nuno Fernandes, de tarde, e a duas actuações musicais, pelos Guta Naki e Noiserv, à noite.

Não faltaram, a par de tudo isto, as habituais bancas de comes e bebes e outras, que, dispersas pelo largo, apresentaram doçaria e licores regionais, vinhos, cestaria, olaria, cadernos e blocos artesanais e, claro está, livros, sobretudo na forma de antologias e selecções de poesia. Já na casa dos 80, Maria Antónia Neves veio do concelho vizinho de Tavira para dar a conhecer ao freguês o seu artesanato, praticado como um dos seus "vícios".

Sob a luz do entardecer e sentada atrás da mesa onde dispõe tapetes de trapos, abanicos feitos com tiras de pacotes de leite, cestos de sacos de plástico e pegas de cozinha "de toda a maneira e feitio", assume estar a gostar do evento e do "movimento que traz à aldeia", cuja densidade populacional regista os valores baixos que se esperam de uma zona, como tantas outras, marcada pelo êxodo e pela desertificação.

artigo publicado no Diário de Notícias, por Duarte Baltazar

CURSO DE ESCRITA CRIATIVA


















Caros Amigos,

A Almargem - Associação de Defesa do Património Cultural e Ambiental do Algarve promove nos próximos dias 25 e 26 de Junho (Sábado e Domingo) o Curso "Escrita Criativa".

Esta actividade será dinamizada por Tiago Nené - poeta e tradutor de poesia. Lançou em 2007 o poemário Versus Nus (ed: Magna) e em 2010 Polishop (bilingue, pt-en, ed: Ayuntamiento de Punta Umbría, Espanha). Está representado em antologias de poesia em Portugal, Espanha, Brasil e México. Tem traduzido poetas de língua espanhola, tais como Santiago Aguaded Landero, Rafael Camarasa ou Aida Monteón. Participa em encontros ibéricos de escritores (Correntes d'Escritas, EDITA, Poesia na Rua, Palavra Ibérica), e organiza workshops de escrita criativa. Preside à associação cultural Linguagem de Cálculo.

Os objectivos desta acção são: disponibilizar um conjunto de ferramentas de escrita a quem se interessar por literatura e por escrever. O curso nasce de uma falha de mercado local e que assim se tenta suprir. Não é um curso de cariz teórico, uma vez que esse é o papel específico das escolas e universidades. É sim um ateliê ou workshop muito prático e que tenta chamar à atenção para aspectos que por vezes passam despercebidos àquele que se propõe criar um texto de ficção ou um texto poético.

Esta acção de formação terá lugar na sede da Almargem, em Loulé.

Número máximo de participantes: 20.

Preço do Curso: 55 €* (sócios e estudantes)

* Não sócios sujeitos ao pagamento da jóia de inscrição (5 €)

Para mais informações e inscrições é favor contactar a Associação Almargem através do Tlf. 289 412 959; Tlm. 960295202 ou eribeiro@almargem.org

Agradecemos a participação e a divulgação deste evento.

Com os melhores cumprimentos,
--
Edgar Ribeiro
Dept. de Educação Ambiental
E-mail: eribeiro@almargem.org

Blogue do Centro Ambiental da Pena - http://centroambientaldapena.blogspot.com/





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